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The Order: 1886

The Order: 1886

Provavelmente o jogo mais belo da nova geração ou até de sempre. Mas será que isso chega?

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A vida não tem sido fácil para The Order: 1886. Os rumores sobre a longevidade do jogo multiplicaram-se nas últimas semanas, entre outras queixas e falhas apontadas por jogadores que provavelmente julgaram-no antes de o experimentarem. Parece-nos o tipo de jogo que será muito elogiado por alguma imprensa (visualmente é soberbo e a história tem qualidade) e crucificado por outros jornalistas. Depois de acabarmos a campanha, tentado abstrair-nos do aparente ódio que a internet decidiu impor neste exclusivo PS4, a nossa opinião fica a meio caminho entre os que vão odiar The Order: 1886 e os que vão adorá-lo.

A qualidade de um jogo não se define pelo número de horas. Journey não durava mais que um par de horas e o próprio God of War original era bastante curto, por exemplo. The Order: 1886 também não é um jogo muito grande. Não fizemos tudo o que havia para fazer, mas explorámos uma grande fatia do cenário na dificuldade média do jogo. Diríamos que tivemos uma experiência que será provavelmente semelhante à da maioria dos jogadores, e que nos ocupou entre sete a oito horas.

Existem muitas referências e documentos para os jogadores encontrarem, mas The Order: 1886 não é um jogo com real conteúdo secundário, nem existem motivos para repetir a aventura. Ou seja, essas sete ou oito horas serão provavelmente tudo o que vão retirar da experiência em termos de longevidade. O maior problema, na nossa opinião, nem são as horas que a campanha dura, mas a relação desequilibrada (ou excessivamente equilibrada, aliás), entre sequências cinemáticas e jogabilidade total. Pareceu-nos que apenas metade dessas sete a oito horas foram realmente 'jogadas'.

The Order: 1886
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The Order: 1886 é um jogo extremamente belo, dos melhores de sempre ao nível de pura qualidade visual, mas também é muito linear, com mapas extremamente controlados e com pouco espaço de manobra. Dito isto, é preciso reconhecer o trabalho da Ready at Dawn na sua criação de Londres. A atmosfera do jogo é soberba, com um nível de autenticidade (não tanto realismo, porque existem elementos sobrenaturais) que faz com que tudo isso possa parecer real e credível. A atenção ao detalhe é tremenda, com texturas de grande qualidade, e as animações são fantásticas, que até incluem um comportamento realista das roupas. Visualmente, The Order: 1886 é realmente magnífico.

Infelizmente, esse detalhe visual lindo de morrer tem um custo - liberdade de jogo. Algumas sequências são tão limitadas em termos de opções de movimento, que tudo o que vão fazer é andar em frente durante largos segundos. A campanha é composta por 16 capítulos, mas em três deles nem sequer jogam, apenas vão assistir a sequências de vídeo. Vale que a história até tem qualidade e irá provavelmente agarrar o jogador com os seus mistérios, intrigas e reviravoltas inesperadas. Como já devem saber, nesta aventura vão assumir o papel de Sir Galahad, interpretado na versão portuguesa pelo ator Pedro Lima.

Sir Galahad pertence a uma ordem de Cavaleiros, seguindo uma versão alternativa da revolução industrial inglesa. Com a proteção do Reino Britânico, a Ordem assume a luta contra um grupo de seres sobrenaturais, chamados de Híbridos. O segredo para enfrentarem esses seres está numa água negra, que prolonga a sua vida natural e a sua capacidade regenerativa (mas morrem perante feridas mortais). Também existe uma fação de rebeldes ligados aos híbridos, que vão servir para desmascarar alguns segredos da Ordem.

A base do jogo é ação na terceira pessoa, embora sem muita variedade além disso. Pelo menos vão poder brincar com algum poder de fogo impressionante, patrocinado por Nicola Tesla. São armas originais, que a Ready at Dawn afinou de forma a que transmitam uma excelente sensação de poder. Como não podia deixar de ser, The Order: 1886 também inclui um sistema de cobertura estilo Uncharted, que funciona bastante bem. Em termos da base da jogabilidade, tudo está bem construído e afinado, pelo que é ainda mais lamentável que a maioria do jogo seja tão linear e os inimigos tenham um comportamento tão previsível, raramente tentando flanquear ou surpreender o jogador.

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A base da jogabilidade são os tiroteios na terceira pessoa com um sistema de cobertura, mas existe outra variante da ação - os Quick Time Events (QTE). Se não tão familiarizados com esta expressão, pensem em sequências de ação predefinidas onde a vossa interação se resume ao uso dos botões que aparecem no ecrã, como carregar para o lado para evitar um ataque, ou metralhar o X para impedir uma investida. Não somos grandes fãs deste tipo de sequências pouco interativas, embora as de The Order: 1886 sejam mais soltas que a maioria, com um maior número de ações ao dispor do jogador.

O jogo tenta intervalar estas sequências QTE e a ação com alguns momentos mais tranquilos, o que à partida nos parece uma boa ideia. É sempre bom variar o ritmo do jogo. O problema é que nestes momentos raramente acontece algo de interessante. Terão de abrir fechaduras ou tentar desarmar uma placa de circuitos, por exemplo. São momentos... aborrecidos, para dizer a verdade, que se alargam em demasia e que pouco acrescentam à experiência. Quase como se tivessem sido inseridos para alargar a longevidade da campanha.

Certos momentos da história também são excessivamente longos e embora lindas de morrer, existem alguns problemas com as sequências cinemáticas. As barras pretas que reduzem o campo de visão, por exemplo, podem ser referidas como uma tentativa de tornar a experiência mais cinematográfica, mas é mais provável que tenham sido usadas para reduzir a resolução e a exigência gráfica da consola.

The Order: 1886

Se visualmente The Order: 1886 é fantástico, outros pormenores são francamente desapontantes. Durante a aventura podem encontrar cilindros com ficheiros de áudio, mas não podem ouví-los durante a jogabilidade em si, têm de permanecer parados no mesmo local. É ainda mais frustrante quando essas salas estão normalmente cheias de pequenos segredos e detalhes, que seriam ideais para explorar enquanto ouvíamos os ficheiros de áudio. Também podem ouvir conversas casuais entre várias personagens, mas estes conversas decorrem em repetição e recomeçam passado algum tempo, quebrando totalmente a imersão do jogo.

Em contraste está a magnífica banda sonora, com peças musicais de grande classe. Todos sabemos a importância que a música tem nos filmes e nos jogos, sobretudo em momentos de grande carga emocional, e o jogo da Ready at Dawn não é exceção. A banda sonora é de facto excecional, mas The Order: 1886, infelizmente, não o é.

Tudo se resume a uma experiência muito linear, que embora seja agradável de acompanhar, a espaços parece não ter alma na jogabilidade. É um jogo feito para um tipo de jogador relativamente casual, que aprecie histórias complexas e tópicos ambíguos. Um jogo para alguém que prefira seguir um caminho predefinido, que não procure uma experiência variada e que se contente por colocar o jogo de lado passadas algumas horas. Se é isso que procuram, e não há mal nenhum em procurar este tipo de experiência, The Order: 1886 vai encher-vos as medidas. De certa forma, é o tipo de jogo perfeito para o jogador casual adulto.

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07 Gamereactor Portugal
7 / 10
+
Grafismo de luxo. Algumas sequências de ação fantásticas. Banda sonora soberba. Localização com atores portugueses conceituados.
-
Quebras gritantes de ritmo sugerem que o jogo foi "estendido" para durar mais tempo. Mundo de jogo lindo, mas bastante linear.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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ANÁLISE. Escrito por Christian Gaca

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