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The Crew 2

The Crew 2

Novos tipos de veículos e ideias refinadas, mas é suficiente?

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As ideias são coisas muito peculiares. Por vezes parecem tangíveis, óbvias, mas isso não significa que a sua execução, a sua realização, se concretize da melhor forma. Foi um pouco isso que sentimos com o The Crew original. Era um jogo muito ambicioso, com a vontade de combinar condução arcade com uma estrutura próxima de MMORPG. Um vasto mundo aberto partilhado com outros jogadores, em que cada um começa 'por baixo' e depois deve evoluir de acordo com as suas ações. Essa proposta foi interessante, ainda que a execução tenha falhado em alguns espaços, mas fica evidente que a ideia era boa, apenas precisava de ser melhorada.

E agora surge The Crew 2, o jogo que finamente pega no potencial da ideia original e finalmente o concretiza... ou pelo menos é isso que gostaríamos que tivesse acontecido. Não é preciso jogar muito tempo para perceber que o estúdio, Ivory Tower, ouviu as críticas ao jogo original e tentou remediá-las. A mais evidente prende-se com a vontade de tornar a experiência de jogo mais acessível, o que conseguiu. A estória é mais genérica, mas fácil de seguir, a interface está mais limpa e objetiva, e a introdução da estrutura é mais eficaz.

Como o jogo anterior, The Crew 2 é baseado num mapa gigantesco que recria a totalidade dos Estados Unidos da América, embora em versão muito reduzida, naturalmente. Podem ir de Los Angeles a Nova Iorque sem um único ecrã de loading, por exemplo, e pelo caminho vão encontrar inúmeros eventos em que podem participar. Existem corridas, desafios, e eventos online, todos capazes de garantirem ao jogador dinheiro e peças para os carros. Existem vários tipos de veículos, e entre cada tipo, disciplinas diferentes. Ao evoluírem os veículos, ganham acesso a desafios diferente, que oferecem outras recompensas melhores, e assim sucessivamente. É este o ciclo de jogabilidade de The Crew 2, baseado em 'loot', tal como se fosse um MMORPG.

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The Crew começou como um jogo de carros, pelo caminho abriu portas a motas com a expansão Wild Run, e em The Crew 2 vão ainda encontrar barcos e aviões. Os carros, contudo continuam a ser o tipo de classe mais expansivo, divididos entre Street Racing, Offroad, Hyper Car, Drift, e Touring, por exemplo. Ou seja, The Crew 2 oferece muito em termos de conteúdo e variedade.

Pela forma como o jogo está estruturado, barcos e aviões acabam por encaixar bem no jogo, mas não são obrigados a jogar com todos os tipos e respetivas categorias. Se não gostam de Offroad, por exemplo, podem evitá-lo, e se preferem acrobacias e saltos a corridas tradicionais, podem seguir esse percurso na vossa carreira. O jogo oferece soluções suficientes para que se dediquem a áreas específicas, caso prefiram jogar dessa forma. O grande objetivo, independentemente de como jogam, é aumentar o número de seguidores nas redes sociais do piloto que estão a encarnar - como o fazem é irrelevante.

O problema é que nem todos os tipos de corridas e conteúdo apresenta o mesmo nível de qualidade. Corridas de barcos e aviões, por exemplo, não são particularmente interessantes, e voar por pontos de controlo é algo que se torna aborrecido com relativa facilidade. Embora os controlos de aviões e barcos funcionem bem, a ausência de sensação de velocidade, e a inexistência de obstáculos (ao contrário dos veículos terrestres), torna esta experiência em algo que não é divertido, nem desafiante. Ainda assim, entre os dois tipos, preferimos os barcos, sobretudo porque apresenta alguns desafios interessantes nos pântanos de Louisiana e Mississippi.

A melhor integração de barcos e navios surge nos eventos que misturam todos os tipos de veículos, e a possibilidade de mudar de carro para avião sem transição, por exemplo, é excelente. Pena que, nos seus eventos singulares, barcos e aviões não funcionem tão bem. Felizmente, como referimos em cima, se sentirem o mesmo que nós e se aborrecerem com esses veículos, serão raras as situações em que serão obrigados a fazê-lo.

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The Crew 2 funciona realmente quando estão a queimar borracha no asfalto, altura em que se assume como um jogo de condução arcade bastante competente. O controlo é sólido, a sensação de velocidade é boa, e a física está à altura das exigências. Algo que nos desiludiu foi o número de veículos no jogo. Enquanto existem várias categorias e disciplinas, não devem existir mais que 10 carros por cada. E também convém referir o 'efeito borracha', ou pelo menos ficámos com essa sensação, de que o jogo compensa os que estão atrás para que a corrida seja sempre equilibrada. Isso torna cada corrida mais competitiva, mas também pode ser frustrante.

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Os eventos em si, como quase tudo o resto no jogo, são funcionais e divertidos, ainda que bastante simples na sua concepção. A variedade em termos de conteúdo será o ponto mais forte do jogo. Jogámos muitas horas de The Crew 2, mas nunca sentimos qualquer tipo de repetição ou falta de opções ao nível de coisas para fazer. Nesse sentido assemelha-se a Forza Horizon, ou seja, um jogo de condução arcade com um mundo aberto recheado de atividades.

The Crew 2 é superior ao antecessor em quase todos os elementos, apresentando uma execução mais eficaz das ideias originais, mas ao mesmo introduz várias ideias novas, e essas, não cumprem o potencial esperado. Tanto os barcos, como os aviões, são divertidos como forma de explorar o mundo, mas perdem muita força em termos de desafios e corridas.

A estória do primeiro jogo não deixou saudades, e o protagonista Alex Taylor estava longe de ser memorável, mas para a sequela a Ubisoft decidiu fazer algo diferente. Agora não são uma personagem pré-definida, mas alguém anónimo que tem como objetivo ser famoso. Para isso precisa de conduzir de forma interessante para ganhar a atenção dos fãs e aumentar a sua base de seguidores. É uma premissa bastante simples e pouco interessante, e o facto dos atores terem prestações muito fracas não ajuda. E mesmo tecnicamente deixa a desejar, com uma falta de sincronização evidente entre as falas e as personagens. Percebemos que um jogo deste tipo não precisa de uma narrativa muito empolgante, mas também não precisa de ser tão má.

Apesar de todos os defeitos que referimos, como a desilusão dos aviões e os barcos, a péssima estória, e alguma escassez de veículos, o ciclo que alimenta a experiência de The Crew 2 continua a ser divertida e viciante. O facto da jogabilidade ser sólida, e do mundo ser tão expansivo e com tanto conteúdo, acaba por tornar The Crew 2 num jogo razoável. O jogo em si não é uma grande desilusão, porque funciona e é divertido. A verdadeira desilusão é que, na sua segunda tentativa, a Ivory Tower não tenha conseguido fazer melhor que isto.

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07 Gamereactor Portugal
7 / 10
+
Muito conteúdo. Excelente espaço de jogo. Interface superior. Condução simples, mas divertida.
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Narrativa é terrível. Aviões e barcos desiludiram.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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