Pedro Camacho: O Compositor Português de Videojogos

Existem portugueses espalhados por todo o mundo, que dão cartas nas mais variadas áreas do negócio e do entretenimento. Pedro Macedo Camacho é mais um excelente exemplo dessa realidade, e começa já a ganhar nome como compositor internacional de sucesso. Pedro tem ainda a particularidade de adorar videojogos, e de ter conseguido trabalhar com vários nomes importantes da indústria, como Civilization V e The Witcher 3, entre outros. De momento, Pedro Camacho está a compor a banda sonora de Star Citizen, o projeto épico de Chris Roberts.

Recentemente tivemos a oportunidade de conhecer o Pedro durante o Game Dev Camp, o evento da Microsoft para produtores portugueses, o que eventualmente levou a uma conversa sobre a sua experiência na área, e as ambições que tem para o futuro. O facto de estar ligado a videojogos, acabou por ser quase uma coincidência, mas é o que se pode chamar de coincidência feliz.

"Simplesmente aconteceu, esta ligação aos videojogos, mas adoro o que faço. Jogo desde os meus três anos e ainda hoje jogo todos os dias um pouco. É uma paixão que está sempre presente. Aliás, algures entre os 18 e os 20 anos, era jogador profissional de StarCraft e fui o criador de um portal que durou diversos anos, chamado PortCraft (um dia adorava trabalhar com a Blizzard num dos seus projetos). Entretanto estudei composição clássica durante muitos anos e foi a essa carreira que sempre dei prioridade. Recentemente até foi estreada uma obra minha chamada 'Requiem Inês de Castro a qual foi tocada no Centro Cultural de Belém. Foi um grande acontecimento para mim."

Ao nível de videojogos, Civilization V, The Witcher 3: Wild Hunt e Star Citizen são os nomes mais badalados que contaram com a sua participação. Pedro explicou-nos todo o processo que passou por cada um destes projetos.
 
"Ajudei a fazer a música da civilização portuguesa com arranjos para guitarra portuguesa no Civilization V, o que foi uma grande honra para mim, pois sempre acompanhei a série. Para o Star Citizen contactei o Chris Roberts no início do projecto. Ele tinha em mente utilizar um dos compositores do Hans Zimmer, mas por ter gostado muito do meu trabalho, contratou-me como compositor principal do jogo. Tem sido uma experiência única trabalhar com uma das melhores equipas do momento. É verdadeiramente uma produção de topo [podem ouvir o tema principal de Star Citizen aqui]."

"Para o The Witcher 3 fui inicialmente contratado para fazer orquestração e para melhorar a qualidade da simulação virtual de orquestra de toda a música dos compositores internos. Deram-me a oportunidade de compor o primeiro tema principal do The Witcher 3, ainda em 2013. Nesse mesmo ano chegou a ser tocado por uma orquestra real, paga pela CD Projekt Red, e em setembro assinei contrato para ser um dos compositores principais do jogo. Em Outubro de 2013, o Star Citizen começou a entrar em produção a grande velocidade, e eu tive de optar por um jogo, por isso escolhi aquele que me pareceu melhor, o Star Citizen. Felizmente, não me arrependo de ter tomado esta opção."

"O Star Citizen é um projecto fantástico com artistas que vieram, maioritariamente, da indústria do cinema. O Chris Roberts considera a música um dos aspectos mais fundamentais do jogo, por isso trabalho diretamente com ele para garantir que teremos uma experiência verdadeiramente cinemática. Neste jogo já foram confirmados atores como o Mark Hamill [Luke Skywalker de Star Wars], Gillian Anderson [Scully dos Ficheiros Secretos], Gary Oldman [Jim Gordon da trilogia Dark Knight] e John Rhys-Davies [Gimli de O Senhor dos Anéis], entre outros. Está a tornar-se de facto um jogo sem paralelo."

"Comecei por enviar uma demo a Chris Roberts. Ele adorou a música e eventualmente escolheu-me como compositor. Fez-me apenas um desafio, que eu lhe desse uma música para ser tocada por uma orquestra e que ficasse fantástica, mas isso foi apenas o começo. Depois de estar a trabalhar no projecto, cada barreira foi derrubada com muito trabalho, sorte e perspicácia. Foi preciso conquistar o coração e o respeito de todas as centenas de trabalhadores da empresa, algo que entretanto consegui."

Se quiserem descobrir mais detalhes sobre Star Citizen, podem ler a nossa antevisão aqui, mas se por acaso têm interesse em seguir uma carreira na mesma linha que Pedro Camacho, aqui ficam alguns conselhos.

"Ouçam muita música de todos os géneros, estudem composição e orquestração a sério, aprendam jazz, toquem numa banda rock, escrevam músicas electrónicas, e esforcem-se por estar a par da tecnologia. É crucial que aprendam a fazer música digitalmente, mas mais importante que tudo, nunca desistam, por mais difíceis que possam ser as condições. Em termos de inspirações, estas são algumas das minhas referências: Josquin des Prés, Tool, Miles Davis, Stravinsky, Dream Theatre, Debussy, John Williams, Hans Zimmer, Wagner, Carrapatoso, Jobim e Gershwin."

"Por exemplo, no Star Citizen pediram-me para escrever música para um trailer para a Hornet [nave], um pedido que, por diversas razões, só me chegou às mãos na véspera do lançamento pelas 21h00. Parecia-me impossível, mas dei o meu melhor, não desisti e trabalhei até às 7h00 do dia seguinte. Enviei para o Chris Roberts, que me pediu algumas alterações, e pelas 11h00 tínhamos finalmente a versão que acabou por ser aprovada. Esse vídeo do Hornet, com a música em questão, acabou por se tornar no trailer mais popular do jogo, com mais de um milhão de visualizações. [podem vê-lo aqui]."

"A este nível não basta ter talento, é importante mostrar que nos momentos mais importantes não vacilamos."

Todos reconhecemos a importância que o departamento sonoro pode ter nos videojogos, sobretudo com o evoluir da tecnologia, mas pedimos ao Pedro que partilhasse a sua opinião.

"Depende do tipo de jogo mas em jogos deste género em que vivemos uma personagem, exploramos o universo e com muitos outros elementos típicos de um RPG, a banda sonora acabar por ter uma importância vital. Se retirassem a músicas de alguns dos vossos jogos favoritos, seriam experiências completamente diferentes."

"É um pouco como acontece com os filmes e ambos começam da forma, com a escrita de boa música. Os jogos acabam por precisar de um trabalho adicional posterior para tornar a música adaptativa à acção que se desenrola de facto no jogo, ou seja, não podemos deixar a música numa forma linear, tem de ter em conta o aspeto interativo do jogo, ao contrário da produção para cinema."

Para terminar, Pedro Camacho aproveitou para elogiar a produção nacional de videojogos, que segundo viu no GameDev Camp da Microsoft, está a surpreender e a resultar na criação de alguns jogos muito promissores. Podem saber mais sobre o trabalho de Pedro Camacho no seu site oficial, ou através da sua página no Facebook.