Português
Gamereactor
especiais
The Inner Sea

Entrevista ao português que trabalhou com The Division

Ivo Duarte: "O que fazes tende a ser tão específico que dificilmente vez o jogo como teu."

Ivo Duarte é o exemplo de um membro da indústria de videojogos portuguesa, neste caso programador, que conseguiu ganhar experiência além fronteiras. Depois de trabalhar em produtoras portuguesas, inglesas e espanholas, Ivo Duarte assumiu a função de programador na Massive Entertainment, onde trabalhou com The Division. Em setembro de 2014, Ivo regressou a Portugal para começar a trabalhar no primeiro projeto individual, The Inner Sea. Em baixo podem ler uma entrevista com Ivo Duarte, sobre o seu jogo, o passado na Massive, e as dificuldades de trabalhar como produtor de videojogos.

Como e quando decidiste que querias trabalhar na indústria de videojogos?

Ainda antes de acabar o curso de engenharia informática, fui trabalhar para um banco como programador, através de uma pequena consultora aqui em portugal. Depois de experimentar a formalidade, o ambiente de trabalho e a burocracia inerente neste tipo de empresas, decidi que aquilo não era para mim. O meu desejo era trabalhar em projectos tecnicamente interessantes e mais criativos. Na altura comecei à procura do que havia em portugal que encaixasse nestes moldes e acabei por ir trabalhar para a YDreams, tanto em jogos como noutros projectos de caráter interactivo. Mais tarde surgiu a oportunidade de ir trabalhar para uma empresa dedicada exclusivamente a jogos, oportunidade que decidi tomar sem rodeios.

De que forma os estudos te ajudaram a seguir a carreira de programador de videojogos?

Estudei engenharia informática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O curso ajudou-me no sentido em que me ensinou as bases de programação, boas metodologias e outros pontos importantes, mas onde realmente aprendi sobre programação de jogos foi em casa, a investigar por mim. O trabalho também ajudou, já que tentava resolver as situações com que me deparava no meu dia a dia profissional. Na verdade não acho a faculdade essencial, nas varias empresas por onde passei, trabalhei com excelente programadores e artistas que não tinham educação formal, tinham aprendido sozinhos. No final o que realmente conta e a tua experiência profissional, esforço e dedicação.

Publicidade:
The Inner Sea
Foto da autoria de Mariana Damasceno: Ivo Duarte, ao centro, numa conferência recente na Fnac do Chiado, com Ivan Barroso e David Amador.

Ao longo dos anos trabalhaste em várias produtoras internacionais. Como é a experiência de trabalhar em estúdios multi-culturais?

E ótima. Uma das coisas que reparei quando fui para Inglaterra, foi a quantidade de estrangeiros que existiam no estúdio para o qual fui trabalhar, desde polacos e portugueses, a espanhóis a russos. Situação que se repetiu quando depois fui trabalhar para Espanha e finalmente para a Suécia. Os estúdios de jogos tendem a ser multi-culturais por natureza devido a especificidade das habilidades necessárias, já que por vezes é difícil encontrar pessoas com a experiência adequada num único território.

Um dos teus últimos projetos foi na Massive Entertainment, com The Division. Como foi trabalhar com um jogo tão popular e esperado como este?

Publicidade:

Trabalhar num grande estúdio com mais de 300 pessoas como a Massive, foi sem dúvida uma experiência enriquecedora. Para dizer a verdade, apesar de ter a noção de que o jogo do qual fazia parte estava rodeado de bastante entusiasmo, não o sentia especialmente. Era engraçado ver recorrentes artigos na Internet a especularem sobre isto ou aquilo, mas num jogo desta dimensão és apenas mais um, num verdadeiro exército de programadores, artistas, animadores e por ai fora. O que fazes tende a ser tão especifico que dificilmente vez o jogo como teu, ao contrario de jogos de menor dimensão, nos quais consegues identificar o teu trabalho.

Achas que o entusiasmo em torno de The Division é meritório? O que achas que mais vai surpreender os jogadores em The Division?

Quando sai da Massive, há quase um ano, o jogo já estava em grande forma. Acho o entusiasmo compreensível devido aos elementos que The Division combina. Ainda por cima é um Tom Clancy, que por si só gera automaticamente um grande ruído em torno do jogo. Também que o conceito é muito interessante e bastante incomum nos jogos deste tipo, aliando a isto o facto de ser um RPG de ação em mundo aberto que está a ser construído com um motor de jogo de classe mundial. Isso permite um nível de detalhe incrível. Aliás, penso que o mais surpreendente é mesmo a qualidade gráfica. O nível de detalhe que os artistas estavam a colocar no jogo era fantástica e acho que a interface do jogo é realmente inovadora. Depois disto, é difícil não ficar entusiasmado.

The Inner Sea
Nos seus tempos na Massive Entertainment, primeiro a contar da fila do meio.

Embora tivesses a trabalhar num grande estúdio internacional, decidiste voltar a Portugal para trabalhares no teu próprio projeto. Porquê?

Decidi voltar a Portugal por um conjunto de razões de caráter pessoal. No entanto já andava com o 'bichinho' de trabalhar num projecto meu há cerca de três anos. Quando tomei a decisão de voltar para Portugal, decidi também que seria agora o momento de avançar com este projecto.

Esse projeto é The Inner Sea, que acabou de ser aprovado no Greenlight do Steam. O que nos podes dizer de The Inner Sea?

O The Inner Sea é um jogo marítimo em mundo aberto, com alguns elementos RPG. Aqui vão explorar livremente um arquipélago, que é gerado aleatoriamente cada vez que começam um novo jogo. Os jogadores são livres de navegar pelo mar, descobrir novas ilhas e cidades e tomar o papel de comerciante. Ou então podem tentar a vida de pirata, atacar navios, ou recrutar mais elementos para a frota. Vão também estar disponíveis vários tipos de missões secundárias para realizar, caso o jogador assim o deseje. E claro a presença de monstros marinhos é obrigatória! Tudo o que fazem no jogo tende a melhorar os navios da armada e aumentar a experiência da tripulação, pois só dessa forma vão conseguir escapar do arquipélago. Algumas das inspirações para este jogo, para os jogadores terem uma ideia do que esperar, são o Mount & Blade: Warband e o Sid Meier's Pirates.

Como te surgiu a ideia para fazer um jogo deste género?

Ao anunciarem o Assassin's Creed IV: Black Flag, fiquei super entusiasmado com a perspetiva de um jogo de piratas. Quando finalmente saiu, encaixei na categoria que achava que as mecânicas e a história de Assassin's Creed não faziam ali falta nenhuma. Na altura comecei a pensar sobre isso, em como seria interessante criar um jogo em mundo aberto totalmente focado no combate náutico. Depois cheguei à conclusão de que não existem realmente muitos jogos deste género, e que adoraria trabalhar num. Isso, aliado ao meu gosto por história e pelo período dos descobrimentos, acabou por resultar em The Inner Sea.

The Inner Sea

Parece estar a criar-se uma grande comunidade e entusiasmo em torno dos produtores portugueses. Que pensas disso?

Acho ótimo, espero que a comunidade continue a crescer e que isso resulte em projetos de grande qualidade, e que sejam financeiramente viáveis. Uma industria de jogos em portugal forte e com bastantes empresas seria um sonho tornado realidade. Estive no Game Dev Camp, da Microsoft, e vi projectos muito interessantes e com grande potencial. Esperemos que continue!

Para eventuais interessados em seguir o ramo de produção nos videojogos, que conselhos tens?

Recomendo que se especializem numa das áreas de videojogos, seja arte ou programação. Trabalhem em casa com dedicação e aprendam o que puderem. O que não falta hoje em dia na Internet são tutoriais sobre tudo e mais alguma coisa. Sejam activos nos encontros dos produtores portugueses, porque quando eu comecei era realmente difícil conhecer alguém que estivesse interessado em desenvolver jogos. Hoje em dia existem encontros regulares em vários pontos do país. Não vai ser um processo fácil, nem rápido, mas se quiserem mesmo seguir nesta industria, o trabalho vai valer a pena.

Em baixo podem ver o Trailer e algumas imagens de The Inner Sea, o jogo que está a ser desenvolvido por Ivo Duarte e que foi recentemente aprovado no Steam Greenlight.

HQ
The Inner SeaThe Inner Sea
The Inner SeaThe Inner Sea

Textos relacionados



A carregar o conteúdo seguinte