Para ter uma ideia de onde vimos em termos de gosto e expetativa, podemos relembrar que somos grandes fãs de The Witness, o jogo de puzzles na primeira pessoa de Jonathan Blow. Mas se há algo que temos de apontar a The Witness, é a ausência de uma história que dê maior contexto ao jogo, e que sirva de fio para o jogador seguir ao longo dos puzzles e das localizações. Call of the Sea oferece precisamente isso, uma narrativa interessante e emocional, que compensa o facto de não ser um jogo tão brilhante e vasto em termos de puzzles como foi The Witness.
Call of the Sea é a história de Norah, uma rapariga afetada por uma estranha doença, que se manifestou na forma de estranhas manchas nas suas pernas e braços. Norah está acamada, e a menos que algo mude, os seus dias estão contados. Com medicina ainda muito limitada em 1930, o marido de Norah, Harry, decide partir numa aventura para encontrar uma forma de curar a esposa.
Harry manteve-se sempre em contacto com Norah através de cartas, mas depois de meses de correspondência, as cartas pararam de chegar. É só depois de algum tempo que chega um último pacote, um pacote que inclui parte da solução para os problemas de Norah - insuficiente para a curar, mas suficiente para permitir que a rapariga se desloque à ilha onde está o marido, de forma a procurar respostas para a sua condição e encontrar Harry.
Ao chegar a esta ilha exótica, Norah começa a seguir os passos do marido e dos seus companheiros, começando entretanto a perceber que a própria ilha esconde um grande mistério - um mistério protegido por vários obstáculos na forma de puzzles. Estes puzzles começam simples, apresentando as mecânicas de jogo e o design ao jogador. Ao mesmo tempo, Norah e os seus diálogos internos oferecem mais algum contexto narrativo aos jogadores. É uma autêntica história de amor, sem grande profundidade, mas foi bem construída e é muito satisfatória. Em parte isso deve-se também à qualidade das interpretações dos atores, em particular de Cissy Jones, que interpreta Norah. Existem alguns problemas na direção dos atores, onde o tom das falas não bate certo com o que está a acontecer, mas isso não é realmente um problemas dos atores em si, mas do diretor.
Fora dos puzzles, Call of the Sea pode ser apelidado de um Walking Simulator, já que envolve caminhadas lentas e demoradas. Embora por vezes seja algo frustrante que Norah não caminhe mais rápido, apreciamos este tipo de experiência, já que acrescenta atmosfera e permite apreciar o detalhe do mundo de jogo. Jogámos a versão de Xbox Series X, que apresenta um grafismo de boa qualidade e muito relaxante.
O melhor que podemos dizer da estrutura de jogo é que, embora os puzzles sejam bons, foi a história que nos motivou a continuar. Isto não é uma queixa aos puzzles, mas um elogio à história e às personagens. Dito isto, não espere facilidades, já que a dificuldade dos puzzles começam a escalar rapidamente, obrigando a boa observação e raciocínio. Por vezes tivemos mesmo de desistir de um puzzle, mas depois de uma noite bem dormida e uma mente fresca, conseguimos sempre encontrar a solução. Só não apreciamos o facto de ser necessário revisitar vários locais à procura de pistas, sobretudo considerando o quão lenta é Norah.
Demorámos sensivelmente oito horas para terminar Call of the Sea, conscientes de que uma boa porção dessas horas foram gastas com os puzzles mais complicados, mas apreciámos o final desta aventura. Em parte, Call of the Sea parece-nos inspirado por Lovecraft, embora com uma abordagem menos sombria. No fim de contas podemos dizer que valeu a pena jogar e terminar esta aventura, e gostaríamos de a recomendar a quem aprecia jogos de puzzles e experiências narrativas ao estilo Walking Simulator.