Arise: A Simple Story é o jogo de estreia da Piccolo Studio, e um excelente cartão de visita para o estúdio espanhol. É um jogo na linha de Journey e GRIS, no sentido em que combina um estilo visual artístico com mecânicas e ideias originais, neste caso a capacidade para manipular o tempo de forma a afetar os arredores. O nome não engana, e Arise: A Simple Story é mesmo uma história simples, mas não de forma negativa. A verdade é que a Piccolo Studio fez uma série de decisões de design acertadas, tirando inspiração de uma série de outros jogos indie, e o resultado é encantador.
Esta aventura peculiar arranca com o funeral do próprio protagonista, permitindo que o jogador encarne o seu espírito enquanto viaja através das suas memórias, algumas muito alegres, outras emotivas e sombrias. Esta premissa funciona em comunhão com uma mecânica de manipulação do tempo, que permite ao jogador mudar de estação do ano, por exemplo. Imagine que está numa área e que não consegue avançar. Ao mudar da primavera para o inverno, pode surgir uma superfície de neve desbloqueando o progresso do jogador. O mesmo é verdade para raios solares, que permitem o desabrochar de flores e o aparecimento de novas plataformas. O espírito do protagonista também varia de tamanho, permitindo-lhe interagir de diferentes maneiras com o ambiente. Embora seja um jogo linear, estas mecânicas acabam por lhe garantir uma boa variedade de experiências.
Para definir de forma mais específica o género de Arise: A Simple Story, podemos classificá-lo como um jogo de plataformas, puzzles suaves, e alguma exploração, jogado com um ângulo fixo da câmara. É fácil perceber a escolha por um ângulo fixo, já que torna a jogabilidade mais simples, e permite ao estúdio mostrar exatamente o que pretende, incluindo momentos de grande emoção ou de vistas espetaculares. Infelizmente o ângulo fixo também causa alguns problemas, sobretudo na segunda metade do jogo, onde a precisão dos saltos é mais exigente, mas prejudicada pela câmara. É um pequeno problema, mas não suficiente para beliscar o que é de resto uma experiência divertida e emotiva.
Não podemos deixar de referir a banda sonora composta por David García, que foi responsável pelas bandas sonoras de jogos como Rime e Hellblade: Senua's Sacrifice. É a companhia ideal para a excelente capacidade artística do jogo, e juntos conseguem puxar com grande eficácia pelas emoções do jogador. É um estilo minimalista, mas com grande atmosfera e ambiente, que deve ser experienciado em sossego e com uns bons fones nos ouvidos.
Mas o mais importante é que Arise representa uma série de emoções através das memórias do protagonista, todas de fácil ligação e relacionamento com o jogador. Amor, saudade, e solidão, são alguns dos temas abordados, e tal como GRIS e Old Man's Journey, também Arise: A Simple Story consegue abordá-los com grande eficácia e emoção. Trata-se de uma experiência indie de grande qualidade e com um enorme coração, altamente recomendada para quem apreciou os jogos que referimos durante o texto.