Adorámos Puppeteer e apoiamos esta aposta renovada da Sony em projetos mais inovadores e nos estúdios independentes. Rain era um título esperado, que pertence a esse grupo, e depois de Puppeteer as nossas expetativas eram razoavelmente altas. Mas infelizmente é mesmo que comparar cão e gato. Branco e preto. Ou melhor ainda, se um é como uma manhã de primavera colorida e radiante, o outro é um fim de tarde cinzento e chuvoso de inverno.
O jogo conta-nos a história de uma criança invisível que persegue uma menina também invisível, que tem a chuva como único aliado e que lhe permite ser visto, quando é necessário. A premissa e a jogabilidade parecem interessantes. O jogo narra a história como se fosse um conto, através de palavras que aparecem no cenário. Um design interessante que funciona bem. E o cenário a lembrar uma cidade no norte da Europa, onde nunca parece parar de chover, foi uma decisão acertada. Isto é o que jogo tem de mais positivo, porque as respostas às questões mais importantes, como "o que é preciso fazer, como se faz e é divertido fazê-lo?", não são as que esperávamos.
Durante todo o jogo devem seguir enquanto tentam permanecer invisíveis a outras criaturas com características semelhantes ao jogador, que apenas ficam visíveis quando debaixo de chuva. Por vezes terão de despistá-las e alguns momentos de maior tensão, tudo o que podem fazer é correr em frente. Quando as criaturas alcançam o jogador, não há nada a fazer: vão morrer com um só golpe. Surpreendentemente, a maioria das mortes do menino são bastante desagradáveis e inquietantes.
O que parece ser o tutorial para explicar as poucas ações do jogo estende-se exageradamente, interrompendo o jogador com pistas intrusivas. Não se justifica, até porque o jogo é simples e não tem mistério. Os únicos problemas, aliás, surgem quando a câmara atrapalha e impede o progresso normal.
Porque há sempre um caminho a seguir, que é quase sempre evidente, excepto em algumas ocasiões onde se torna confuso (confuso mesmo, não engenhoso). Continuem em frente e não percam tempo a explorar caminhos alternativos. Não só são inúteis (sem segredos ou extras para encontrar), como muitas vezes levam a barreiras invisíveis, um tipo de design que começa a ser inaceitável nos dias de hoje.
Os poucos puzzles do jogo são também desinspirados. Os que estão diretamente ligados à física ou ao cenário, parecem algo saído de principiantes (sobretudo em comparação com o crescente número de jogos que têm utilizado este tipo de mecânicas). Já os que requerem o uso de objetos são demasiado inocentes ou toscos.
Mas o maior problema reside na incapacidade de Rain crescer, de explorar a sua fórmula inicial. Eventualmente introduz novas criaturas e mecânicas, como água suja ou barulho que permite aos inimigos detetarem o jogador mesmo que não esteja na chuva. E é fácil imaginar como tudo isso podia combinar e oferecer novos desafios ao jogador. Mas nunca acontece. Rain permanece simples, sem engenho e por vezes, nem sequer tem bom aspeto.
É curioso, que Rain chegue numa altura em que Portugal começa a sentir o resultado das primeiras grandes chuvadas de outono. O jogo não podia ter escolhido melhor altura para o lançamento, mas Rain nunca chega a lembrar os encantos que um dia chuvoso pode ter, permanecendo sempre cinzento, frio e deprimente. Podia ser o jogo perfeito para entreter os jogadores, aconchegados com pantufas e roupão enquanto chove lá fora, mas falha redondamente. Uma pena e uma grande deceção.