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Watch Dogs

Watch Dogs

O jogo é novo, mas a estrutura é muito familiar...

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Enquanto jogávamos Watch Dogs, lembrámo-nos de um bom subtítulo para o jogo: "Best of" da Ubisoft. A estrutura de multi-produtoras da companhia francesa é agora uma máquina bem oleada, que lhe permite despachar grandes produções em tempo recorde. No entanto, com uma produção tão fragmentada em tantos estúdios diferentes, corre-se o risco de acontecer o que se passa um pouco em Watch Dogs. Mais do que qualquer outro título da Ubisoft, Watch Dogs parece uma espécie de Frankenstein, uma experiência bizarra onde foram cozidos componentes e conceitos de vários outros jogos da editora. São quase visíveis as costuras entre vários estilos de jogabilidade, cada um extremamente competente, mas não necessariamente coesos como um todo. Ainda assim, Watch Dogs consegue proporcionar uma das melhores experiências em mundo aberto dos últimos tempos.

As primeiras impressões não são, porém, as melhores. Um nível inicial dentro de um estádio, enquanto tentamos iludir a polícia, lembra-nos demasiado das sequências de Desmond em Assassin's Creed III - as piores desse jogo. As primeiras horas de Watch Dogs são francamente lentas, o que em conjunto com um impacto pouco impressionante do grafismo, mesmo na PS4 (onde jogámos), baixaram imenso as nossas expetativas inicias.

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Felizmente, depois desse período introdutório, a qualidade da jogabilidade e do grafismo começa a causar melhor impressão. Também a história arranca para um ritmo mais interessante, com vários momentos altos. Ao aproximarmo-nos da conclusão do primeiro ato (são cinco, ao todo), ficámos finalmente confortáveis com a estrutura do jogo e com natureza da jogabilidade, mesmo que por vezes se torne excessivamente repetitiva.

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É uma seleção cuidada dos melhores elementos dos outros projetos da Ubisoft, embora em muitos casos mais refinada do que as origens, o que torna a experiência num todo muito positiva, embora como já referimos, não necessariamente coesa. Com o gatilho direito, Aiden corre, e com outro botão salta livremente por objetos, a lembrar uma versão contemporânea (mas não tão ágil) de Ezio. Watch Dogs é um jogo que emprega o uso de ação furtiva, mas aqui descartou as mecânicas ultrapassadas de Assassin's Creed, virando-se antes para o mestre do género entre a Ubisoft: Splinter Cell. O sistema de cobertura é fantástico, permitindo contornar cantos e trocar de abrigo sem grande esforço.

Embora uma boa fatia da jogabilidade seja construída em cima do conceito de Hacking, Pearce tem acesso a um armamento de fazer inveja a um pequeno exército: caçadeiras, lança-granadas, pistolas com silenciador e espingardas - tudo escondido na sua enorme gabardine. Durante as mais de quinze horas necessárias para terminar a campanha principal (uma história de vingança com alguns temas interessantes), vão ter o dedo mais vezes no gatilho que no telemóvel de Aiden, o que nos desiludiu. Felizmente os tiroteios são extremamente satisfatórios, bem como a condução, quem sabe retirada de The Crew ou Driver.

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Como outros jogos em mundo aberto, Watch Dogs baseia-se numa versão realística, embora condensada, de uma cidade real, neste caso Chicago. Os distritos foram notoriamente reduzidos em relação à versão real, mas as localizações mais importantes, a arquitetura e o tom da cidade estão bem representados. É um pouco irrelevante se nunca tiveram realmente em Chicago, mas também é necessário realçar que não é tão imediatamente apelativa como Los Santos de GTA V, por exemplo. Em vez disso é uma cidade cujo encanto se vai revelando com o tempo e conforme avançam no jogo.

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Mais importante ainda, é uma cidade viva, e a componente central da jogabilidade - e o que difere Watch Dogs de outros jogos, o hacking de componentes eletrónicas - está bem patente em todos os elementos da experiência. O arco central da história é precisamente esse, enquanto o hacker Aiden Pearce interage com várias figuras para tentar chegar a quem ordenou um atentado à sua vida. O ctOS, sistema central que governa vários departamentos da cidades, como as câmaras de segurança, os semáforos e tantos outros elementos, é vital para o sucesso de Aiden, já que o protagonista tem livre acesso ao sistema.

Com o telemóvel de Aiden conseguem aceder ao ctOS e causar uma série de eventos. Entre a condução, a exploração e os tiroteios, é a componente de Hacking que melhor distingue a jogabilidade. Com um toque de um botão, Aiden pega no seu telemóvel e torna-se de imediato evidente onde está ligado e ao que pode aceder. Com outro toque no botão interagem com o dispositivo para onde estão a olhar. É intuitivo e prático, se bem que altamente improvável.

Mas antes disso precisam de uma ligação às torres ctOS - existe uma em cada distrito - outra componente que partilha com vários jogos da Ubisoft, embora a execução seja de qualidade. Chegar até ao sistema é uma espécie de puzzle, e mesmo o mini-jogo de hacking que têm de realizar é desafiante sem ser obtuso. Assim que estiverem ligados à torre, conseguem observar detalhes de cada um dos cidadãos que passeiam pela cidade. Podem aceder às suas contas bancárias, às conversas por mensagem e outras informações, que abrem acesso a missões secundárias. Com tantas conversas disponíveis, tanto diálogo, é impressionante a quantidade e a qualidade de trabalho de voz colocada no jogo (embora a ligação aleatória entre corpo e voz resulte em algumas combinações bizarras).

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Será através da campanha principal que vão aceder aos melhores momentos das habilidades de Hacking de Aiden. Tal como acontece com as armas e com a condução, as capacidades de Hacking também podem ser melhoradas conforme ganham experiência. É uma evolução fantástica - bloquear uma chamada para a polícia é engraçado nas horas iniciais, mas colocar quarteirões inteiros às escuras para escaparmos sem sermos detetados é uma ação que não deixa de ser impressionante até final.

Uma boa fatia das missões pedem a invasão de áreas guardadas, onde terão de hackear um computador. Com o telemóvel podem aceder a câmaras em sequência e ganhar facilmente uma visão privilegiada da zona. Desta forma podem calcular o caminho e as ações que vão tomar de seguida.

Embora o foco esteja na ação furtiva, é provável que acabem por abandonar várias localizações debaixo de fogo - são poucas as missões que forçam o jogador a permanecer incógnito. É uma pena que não existam mais consequências para quem é visto, já que iria distinguir ainda mais a experiência. O único senão é que, se morrerem, terão de reiniciar a invasão a uma destas áreas do início. E como em tantos outros casos, fazê-lo à primeira é divertida, mas as vezes seguintes começam a ser mais aborrecidas. Seja como for, parece-nos demasiado tentador partir para os tiroteios, o que acaba por tornar o hacking mais num acrescento do arsenal de Aiden do que numa componente vital.

Mais interessantes são as perseguições, já que é difícil despistar a polícia em Watch Dogs. Pelo menos a condução é bastante competente e os amantes de motas vão adorar a forma como estão recriadas no jogo. E se estão preocupados em atropelar alguém (Aiden não é, afinal de contas, um assassino em série), a maioria dos cidadãos consegue desviar-se eficazmente dos veículos.

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Existe muito para fazer em Watch Dogs e o jogo tem uma longevidade considerável, mas eventualmente começa a tornar-se repetitivo. O que começa como uma operação de tráfico humano, através de uma introdução bastante poderosa a meio do jogo, acaba por ser reduzido a uma busca de pastas espalhadas pela cidade. A procura por um assassino em série? O mesmo - encontrar uma pista e analisá-la. Torna-se numa busca por migalhas até ao destino final, um exercício para juntar à marca dos 100% de jogo, e não algo que incentive à jogabilidade.

Esta repetição, juntamente com um desaproveitamento das habilidades de Hacking, são as nossas maiores queixas e até desilusões. Ainda assim, são elementos que podem ser trabalhados para a inevitável sequela, em cima do que é confessamente uma excelente base. O multijogador, que tem sido detalhado nos últimos meses, funciona bem e a sua integração na campanha é louvável. Em termos de grafismo e som, é uma grande produção e isso nota-se. Não está ao nível do que foi prometido nos primeiros trailers, mas tem bom aspeto. Já o som é fantástico a todos os níveis.

Apesar de ser uma reunião de ideias de outros jogos, e de ter as suas falhas, Watch Dogs acaba por ser um arranque promissor para uma série nova, que em certos pontos supera mesmo Grand Theft Auto V, embora no geral o jogo da Rockstar seja uma experiência de outro nível. Não foi capaz de cumprir por inteiro a premissa do primeiro trailer e recorre demasiado a mecânicas tradicionais, como tiroteios e condução, mas desde que não esperem uma revolução no género em mundo aberto, é provável que apreciem o que Watch Dogs tem para oferecer.

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08 Gamereactor Portugal
8 / 10
+
Todas as componentes são muito sólidas. Multijogador bem incorporado na campanha. Localização dos textos e legendas para português (bastante liberal, por sinal).
-
As missões secundárias tornam-se bastante repetitivas. A mecânica de Hacking acaba por não ser tão relevante quanto poderia. Consequentemente, o jogo acaba por não ser assim tão original.
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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